segunda-feira, 18 de outubro de 2010

MATERIAL PARA A AULA (esta semana)

            TEXTO 1

            “Ser mulher nos Estados Unidos neste fim-de-século: que maravilha! Pelo menos é o que se diz o tempo todo. Os políticos garantem que as barricadas já caíram. As mulheres "chegaram lá". O mundo da publicidade se regozija. A revista Time proclama que a luta da mulher pela igualdade "foi amplamente vencida". Matricule-se à vontade em qualquer universidade, arrume um emprego em qualquer firma de advocacia, solicite empréstimos em qualquer banco. Os líderes trabalhistas afirmam que agora as mulheres têm tantas oportunidades que não é necessária uma política que lhes garanta igualdade de condições. Os legisladores proclamam que atualmente as mulheres são tão iguais que já não é preciso haver emendas constitucionais para a Igualdade de Direitos. Até os anúncios de cartões de crédito estão saudando a liberdade da mulher a fim de cobrá-la. Enfim, as mulheres receberam os seus papéis de cidadania plena.
            E mesmo assim...
            Por trás desta celebração da vitória, por trás das afirmações, alegres e continuamente reiteradas, de que a luta pelos direitos femininos foi vencida, a mensagem que salta aos nossos olhos é outra. Você pode ser livre e igual o quanto quiser, ela diz às mulheres, mas nunca se sentiu tão infeliz.
            Este boletim de desespero está afixado em todos os lugares - nas bancas de jornais, na telinha da televisão, nos anúncios, nos filmes, nos consultórios médicos e nas publicações acadêmicas. As mulheres profissionais estão entrando em "parafuso" e sucumbindo a uma "epidemia de infertilidade". As solteiras estão se queixando devido à "falta de homens". O New York Times revela: as mulheres sem filhos andam "deprimidas e confusas" e cada vez em maior número. A Newsweek afirma: as mulheres não-casadas estão "histéricas" e prostradas numa profunda crise de "falta de confiança". Os manuais médicos informam: mulheres em altos cargos executivos estão sofrendo como nunca de "distúrbios provocados pelo estresse", queda de cabelo, nervosismo, alcoolismo e até enfartes. Os livros de psicologia advertem: a solidão da mulher independente representa hoje em dia "um dos mais graves problemas de saúde mental". Até a histórica feminista Betty Friedan anunciou aos quatro ventos que as mulheres estão atualmente sofrendo de uma nova crise de identidade e de "problemas ainda sem classificação".
            Como é que as mulheres podem estar tão mal justamente quando deveriam sentir-se  bençoadas? Se a condição da mulher nunca foi tão prestigiada, como explicar que o seu estado emocional ande tão em baixa? Se as mulheres conseguiram o que queriam, então qual é o problema, agora?”

TEXTO 2

Desenho o teu perfil
Como um bordado;
Matiz e labirinto.

Uma anca abaulada,
Um pé suspenso
E a cabeça
De encantado.

Passeias nos meus sonhos,
Nos meus bosques
De sombra e solidão.

Solitário também
E assustado:
Tão dedicado risco
-       Elfo e onagro.

Nunca virá a mim.
Por mais que espreites
(E te espreite)
Não virás.

Desejas no entanto
Meu regaço.

Mas nunca o terei nos braços.

... Nunca o doce
Calor de seu pelo,
Nunca o suave
Parafuso do chifre...

-       Que linha furiosa nos separa?

Neste jogo de espelhos,
Divididos,
Nos buscamos em vão.

Não me escutas,
Nem voltas a cabeça.

Nem eu atiro o laço.



TEXTO 3

“Renasço a cada dia. A cada manhã, renovo minhas penas. Ontem, foram as brasas. Meu corpo frágil, meu ser de indecisa textura, ardeu em chamas, devorou-se, inteiro, ao calor de sua própria fogueira. No fim, restou um pouco de pó, mornas cinzas escuras. Mas ao romper da manhã, os carvões se agitaram. Débil ruflar de asas, um espichar de remígios e, novamente pássaro, me ultrapasso. Para o alto, para o alto! Atrás são cinzas mortas, pó desfeito, uma pequena coivara onde crepitam, ainda, rescaldantes, os restos do braseiro.

Aos poucos, lentamente, recupero os sentidos. Aos poucos, lentamente, reaprendo os caminhos. Me oriento devagar pelas velhas pegadas. Aqui, sem dúvida, já estive. É meu este traço, este espalmado rastro. Sinto que há ainda em mim um vestígio de abismo. Um chamuscado leve, uma fina cicatriz no encontro das asas. E uma lembrança quase morta, uma recordação abafada da ferroada das chamas, do dilacerante calor brotando das entranhas.

Mas, renasci. Renasço todo tempo. E meu tempo é este constante oscilar, este pêndulo esticado entre o toque de morrer e a hora do resgate. Ainda há pouco eu era apenas um montículo de pó, resíduos calcinados. Mas uma nova força revive de minhas brasas, asas soltas no espaço.

Agora, o céu é meu. E todo este dia glorioso, com seu hálito de jasmins, com seu sopro de plumas. Meu é este dia, o espaço deste dia. E a força de viver bate forte nas veias. Respiro com prazer e me engolfo no vento. Mais uma vez retomo meus cantares. Mais um dia! Mais um dia! Sei que breve, de novo, morrerei. Sei que nova mortalha de pó e cinza velará a minha face. Outro fogo me espera, outro mergulho ao cerne da fornalha.

Mas, agora, me equilibro na força de minhas asas. Todo o horizonte me pertence, tudo que embaixo respira e se renova. Ventos brandos do céu, arco-íris, auroras. Um dia, de novo, enfrentarei o holocausto. E novamente arderei até a poeira final, o restolho, o borralho. Mas não importa. Sei que tudo isto é apenas passagem. E renascerei de novo de minhas cinzas. Íntegra e radiante para novas batalhas.”

TEXTO 4

“Mais de 500 mil mulheres morrem todo ano por problemas relacionados à gravidez --a principal causa de doença e mortalidade entre as mulheres de 15 a 44 anos--, 99% delas nos países em desenvolvimento. Cerca da metade dos 40 milhões de pessoas infectadas pelo vírus da Aids em todo o mundo são mulheres --quando durante anos foram os homens os principais contaminados--, e na África essa proporção se aproxima de 60%, na maioria jovens entre 15 e 24 anos.

Na Ásia e na África subsaariana, só 47% e 30% das meninas, respectivamente, entram na escola primária. Por isso não é de estranhar que dos 920 milhões de analfabetos que existem no mundo 600 milhões sejam mulheres. Quando trabalham fora de casa, seu salário --para o mesmo trabalho e responsabilidade-- equivale a 73% a 77% do dos homens.

Se tudo isso não bastasse, uma em cada três mulheres no mundo é ou foi vítima de agressões físicas ou sexuais em algum momento de sua vida.”

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